sexta-feira, 1 de outubro de 2010

23.09.2010: Firenze-Milano

Meia noite e ali estávamos nós, numa paragem de autocarro quase invisível, com muito frio e a comer chocolate. E assim ficámos, durante mais de meia hora, até que chegou o autocarro, cujo motorista também se prontificou a avisar-nos quando chegássemos à paragem devida. Não fosse a nossa, desta vez, atenção redobrada e acabaríamos, de novo, muito longe de Campo di Marte.
Mal chegámos, deparamo-nos com uma sala de espera que em tudo se assemelhava a uma casa para uma dezena, ou mais, de sem-abrigo. Nas máquinas de venda de bilhetes automáticos, procurámos o bilhete adicional de 3€ de que teríamos de nos fazer acompanhar para poder entrar no inter-cidades nocturno. Tendo em conta que, no entanto, isso não parecia ser possível, já estávamos a ponderar como certa a hipótese de embarcar sem bilhete e explicar ao pica a situação, não fosse a minha curiosidade e uma atenção nada em mim natural de ter reparado que, num outro canto da sala, havia máquinas com linguagem em português! Para me entreter, decidi brincar um bocadinho e acabei por descobrir que a solução ao nosso problema estava mesmo ali. Comprámos logo o bilhete Florença-Bologna (onde teríamos de mudar de comboio) e Bologna-Milão.
E então, por volta das 2h da manhã, estava eu numa carruagem mal cheirosa, sozinha – já que havia lugares marcados e nós não tínhamos conseguido ficar juntas – a rabiscar umas anotações sobre a nossa intitulada road trip e a tentar, a todo o custo, manter-me acordada, até porque a viagem não demoraria muito mais que uma hora. Já no outro comboio, directo para Milão, a nossa sorte foi outra. Todas com lugares marcados na mesma cabine, já a sonhar com as cerca de 3 ou 4 horas de sono que teríamos, abrimos a respectiva porta e deparámo-nos com dois homens adormecidos, a ocupar todos os nossos lugares e, melhor ainda, qual cavalheiros, a presentear-nos com o belo cheiro dos seus pés descalços. Contudo, como a sorte, ainda que muito manhosa, nos acompanhou durante toda a viagem, conseguimos encontrar uma outra cabine, totalmente vazia e na qual ficámos toda a viagem sozinhas, sem ninguém nos tirar de lá.
Chegámos a Milão ainda mal tinha nascido o dia. Eram 6h45. Durante os breves instantes em que eu e a Mariana deixámos a Raquel e a Inês para ir à casa de banho, elas adormeceram num canto mesmo em frente à porta desta. Quando voltámos, ainda tentámos demovê-las daquela ideia absurda, mas, como já diz o ditado, se não consegues vencê-los, junta-te a eles. E, assim, eu e a Mariana não resistimos a acomodar-nos ao lado delas e, também nós, acabar adormecidas entre a entrada de dois elevadores e da casa de banho. Até que fomos acordadas por um polícia que, gentilmente, nos pediu para sair dali. É escusado dizer que, em vez de irmos à descoberta de Milão, sentimo-nos no direito de nos sentar nos banquinhos da estação e voltar a adormecer, durante 2 horas.
Quando acordámos, apanhámos o autocarro para o centro e, na ânsia desesperada de prestar a nós próprias cuidados mínimos de higiene e encontrar um lugar com tomada para pôr a bateria da minha máquina, fomos tomar o pequeno almoço ao já tão nosso, claro está, McDonalds. Entre cappuccinos, brioches, lavagens de dentes, alguma muda de roupa e conversa, ficámos, seguramente, mais de uma hora nesta nossa nova casa, o que resultou num início de visita a Milão muito tardio.
Seguindo as indicações do nosso tão prestável guia, fomos logo ver a Duomo, uma catedral gótica gigantesca, frente à qual existia uma grande praça e, num canto, um palco montado onde se podia ler claramente Milano loves fashion (que, de resto, era o slogan de milhares de cartazes espalhados por toda a cidade). A verdade é que, durante o resto do dia, percebemos que, além disso, de meia dúzia de igrejas espalhadas por aqui e por ali – numa das quais decorria um casamento e nós (eu não, porque, verdade seja dita, mal parei, aterrei logo), nada curiosas, sentamo-nos fora da igreja à espera que noivos e convidados saíssem para podermos apreciar as roupas usadas numa cerimónia na cidade da moda - e das ruas e galerias com centenas de lojas super caras, Milão não tem muito mais para ver. Ainda poderíamos ter tido a oportunidade única de ver a Última Ceia do Da Vinci, não fosse preciso reservar a visita com um mês de antecedência, no mínimo. De resto, podemos dizer que muito do encanto de Milão, encontrámo-lo à noite.
Ao fim da tarde, procurámos um castelo e os seus jardins que nos soaram a uma perfeita desculpa para parar e descansar. Quando finalmente o encontrámos, sentamo-nos para comer as nossas bolachinhas e partilhar uma maçã, até que, num banco um pouco mais longe, um senhor, pelos visto muito simpático, começou a discutir – entenda-se gritar – ao telemóvel, o que nos pareceu o sinal de aviso para sair dali. Sorte a nossa que logo de seguida encontrámos um vendedor de pulseiras arco-íris (a Raquel acaba de as denominar assim) que, literalmente, me atirou uma para cima, depois de eu a recusar. Sempre a relembrar a waka waka e o amor e solidariedade para com África, amarrou uma pulseira ao pulso de cada uma, garantindo que era oferecida, para nos pedir imediatamente uma moedinha. Ora, tendo em conta que nós é que andávamos sempre a contar os trocos, dissemos-lhe que não tínhamos dinheiro e ele, muito chateado, foi embora. Ainda tivemos tempo de nos sentar na beira de uma fonte, frente ao castelo, antes de irmos passear pela Via Napoleone, ao que parece a rua onde todas as grandes marcas se concentram em diversas lojas e onde passeiam pessoas tão bem vestidas e cheirosas que eu, nem numa festa de gala, conseguiria alguma vez estar ao nível de elegância e classe destas.
Quando começou a anoitecer, estávamos absolutamente de rastos. Voltámos à praça da Duomo e, tal e qual umas sem abrigo, deixámo-nos cair num canto e ali ficámos. Teria sido esse o plano para toda a noite, não fosse o ensaio para um qualquer espectáculo, no palco montado que anteriormente mencionei. A Raquel, mal viu que se tratava de dança, esqueceu imediatamente o cansaço e foi a correr para lá, com a Mariana logo atrás de si. Por solidariedade, eu e a Inês, com muito esforço, lá nos levantámos para as acompanhar.
Mais uma vez, por ser o mais perto e o mais barato, fomos buscar comida ao McDonalds e jantámos na praça. Ainda tivemos tempo para fazer dois amigos egipcianos a quem, mesmo nós de mau aspecto e mal cheirosas, parecemos molto carinas.
O resto, já todos sabem e eu não tenho muita vontade de voltar a contar pormenorizadamente… Voltámos para a estação de Milão, adormecemos e roubaram-me o telemóvel e dinheiro. Mas, como eu já disse, a sorte acompanhou-nos sempre, ainda que muito disfarçadamente, e felizmente eu encontrei um ladrão civilizado e com carácter, que me fez o grande favor de deixar os documentos e a máquina fotográfica.

2 comentários:

  1. Devias pôr aqui uma foto do momento em que "aterraste" a ver as roupas do casamento. Isso sim, é uma pérola para partilhar com o mundo!

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  2. AMO ESSA FOTOGRAFIA QUE LINDAS!

    raquel andaaaaa :D

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