quarta-feira, 29 de setembro de 2010

22.09.2010: Firenze

Um cappuccino e a constatação assustadora de que o bilhete de comboio tinha ficado no hotel, do qual já tínhamos feito check out. Assim começou o dia em Florença.
Quando, depois de vários minutos com os nossos bilhetes na mão e a ponderar viagens e crimes, a Mariana se apercebeu de que o seu não estava com ela, foi a correr para o hotel. Por via das dúvidas, tendo em conta o seu bom sentido de orientação, levou a Inês atrás de si, enquanto eu e a Raquel ficámos à espera, sentadas na mesa do café, onde tínhamos bebido o indispensável cappuccino da manhã e, quase clandestinamente, comido um pão comprado minutos antes. Logo que a Mariana e a Maria Inês voltaram do resgate, com o bilhete são e salvo, começámos, muito mais descansadas, a visita a uma cidade que, certamente, tão cedo - ou nunca - iremos esquecer.
Florença tem de tudo: monumentos enormes e coloridos, uma igreja em cada esquina, um rio lindo com pontes que proporcionam paisagens fantásticas e das quais uma - a Ponte Vecchio - alberga sobre si uma verdadeira fábrica de ouro, de tantas as ourivesarias que se estendem ao longo da sua calçada, uma praça bem no alto que permite admirar toda a cidade no expoente máximo do seu esplendor e até mesmo sinais de trânsito bastante engraçados...
Depois de passear muito pelo centro histórico, parámos num pequeno bar, à beira-rio, com uma sombrinha que vinha mesmo a calhar, óptimas sandes para o almoço e cujo único problema residia simplesmente na quantidade de pombas esfomeadas e nojentas que andavam à volta da minha cadeira. De barriga quase cheia - porque ainda ficou aquela sensação de insatisfação que seria compensada com um gelado mais tarde - voltámos a pôr mochila às costas e partimos em mais descobertas.
Deixámos para trás o lado mais histórico e monumental da cidade, atravessámos o rio e, por entre uma zona mais natural e verde, depois de muito subir, chegámos à praça de Michelangelo. Indescritível. É esta a única palavra capaz de dizer o mínimo da beleza que de lá se avista. Com uma excelente vista de toda a cidade, foi impossível não nos rendermos a Florença que, mais do que uma cidade, é verdadeira arte. O cansaço, que se espalhava por todo o nosso corpo, naquele momento desapareceu, para dar lugar a um fascínio e a uma admiração muito dificilmente igualáveis. Falo por mim, mas acho que também posso falar por todas: se já não havia qualquer dúvida de que era uma cidade de sonho, aquele instante em que chegámos ao alto de Michelangelo, foi o instante em que nos apaixonámos perdidamente por Florença.
Ainda que desejássemos ficar ali para o resto das nossas vidas, lá decidimos seguir viagem e conhecer o que ainda faltava. Fomos, por isso, capazes de subir mais um bocadinho ainda e chegar a uma igreja com uma vista igualmente espectacular. Melhor ainda, lá fizemos aquela que foi uma das melhores descobertas do dia: uma fonte de água fresca pela qual ansiávamos há horas!
Antes de jantarmos, ainda tivemos tempo de parar no terraço de entrada deum palácio enorme e num ponto de internet onde aproveitámos para passar para o disco externo da Raquel as quase mil fotos que já tínhamos.
Tendo em conta que a máquina fotográfica, nossa melhor amiga durante toda a viagem, tinha ficado sem bateria, lá nos obrigámos a ir jantar ao McDonalds - que, como irão perceber, se tornou o mais parecido com uma casa que tivemos ao longo desta aventura - para a pôr a carregar. Sorte a nossa, só havia uma tomada na divisão que estava fechada, o que tornou o tempo de carregamento muito reduzido.
Como o nosso comboio para Milão partia de uma estação que não a central, apanhámos um autocarro. O condutor, ao bom estilo italiano, prontificou-se a dizer-nos quando devíamos sair mas eis que... se esqueceu! Entre conversas parvas e gargalhadas, apercebemo-nos que talvez já tivéssemos andado demais. Quando a Raquel foi, só por via das dúvidas, perguntar, se já não teríamos passado a estação, ele levou as mãos à cabeça, disse-nos para apanhar um autocarro de volta, no meio do nada, e nem um pedido de desculpa fez.
E ali ficámos nós, sozinhas, numa estrada escura, rodeada de floresta, onde os carros passavam só ocasionalmente... Faltava mais de meia hora para o único e último autocarro de volta passar. Era meia noite.


P.S.: Mãe, olha o vestido que eu cosi! :D

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

21.09.2010: Roma-Perugia-Firenze


São 4h da manhã. Saímos de casa, mochila nas costas. Não dormimos. No entanto, estamos felizes. Sinto os olhos pesados, mas o sorriso e a ansiedade conseguem mantê-los abertos. Temos, exactamente, 1h50 até à partida do comboio. Embora seja muito cedo, apanhar o autocarro nocturno das 4h08, na Viale delle Provincie, é a nossa única hipótese de chegar a Termini a tempo. Ou era!
E assim começam as nossas aventuras...
Perdemos o autocarro e, com a ajuda e companhia do nosso paizinho, o Ivo, conseguimos chegar em cerca meia hora, a pé, à estação. No entanto, Road Trip que é Road Trip nunca pretere o certo pelo incerto, o seguro pelo inseguro, o esperado pelo inesperado... E, assim, os pequenos percalços não se ficaram por aqui.
Eu, que sou sempre a mesma, como se costuma dizer, esqueci-me do cartão de memória da máquina fotográfica em casa. Não fosse a Raquel lembrar-se de tirar uma foto mal chegámos a Termini e as nossas 2747 fotos ficariam reduzidas a... nem quero sequer imaginar! Qual loucas, decidimos voltar a casa para recuperar a pequena relíquia, assim como o horário dos comboios, pelo qual pagámos 5€ de propósito, de que também nos tínhamos esquecido. Faltava, precisamente, 1 hora para o nosso comboio partir.
No entanto, o acaso, como nós acreditamos, nunca nos deixa ficar mal. A verdade é que, se temos alguém para fazer asneira, também temos alguém para remediá-la. O génio da Inês acordou, estávamos nós a chegar a casa, e lembrou-se que o comboio, que saía de Termini às 5h50, parava em Tiburtina minutos depois. Ora, Tiburtina fica, nem mais nem menos, a poucas centenas de metros de nossa casa que, em minutos, se traduz em cerca de 10 a pé. Resultado: por incrível que pareça, depois de tudo, ainda ficamos à volta de meia hora na estação à espera do nosso transporte!
Às 9h, mais coisa menos coisa, depois de uma breve paragem em Foligno para trocar de comboio, chegámos a Perugia. Apanhámos o autocarro para o centro, tomámos um belo de um cappuccino para repor energias e partimos em descoberta de uma cidade que, embora pequena, tem muita beleza para mostrar. Apreciámos vistas magníficas, gravámo-las em centenas de fotos, descemos escadas mesmo fofinhas, perseguimos a visão de um castelo que, depois de muito tempo e cansaço para o encontrar, acabámos por não poder subir. Dividimos uma excelente pizza, redonda (e não rectangular, como o habitual em Roma), sentadas na mesa de um restaurante a sério e, por recomendação do Ivo, comemos dos melhores gelados que alguma vez provámos.
Quando fomos apanhar o comboio para a tão esperada Florença, estávamos completamente exaustas!
Já na cidade encantada, tivemos a sorte de, por mero acaso, encontrar muito rápido um hotel bem barato. Já de quarto assegurado e mochilas fora das costas, fomos dar um pequeno passeio, perto do anoitecer, à beira-rio. Ainda que não tivéssemos visto quase nada, ficámos desde logo fascinadas com Florença! De vista cheia, voltámos cedo para o hotel, para podermos descansar bem e, assim, estarmos prontas para, de manhã, explorar o melhor possível uma cidade de sonho...
Tudo o que aconteceu e vimos no dia seguinte, fica para saber mais tarde...


Não percam o próximo episódio, porque nós também não!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

viaggiare, esplorare.

Vamos de viagem!
Nos próximos 6 dias, que prometem ser cansativos, mas bem interessantes, passearemos por Peruggia, Florença, Milão, Verona, Veneza e Siena.
Estou feliz.

Até domingo *

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Adattamento

E entre passeios, filmes, compras, cartas, festas, risos e conversa se passam os dias em Roma...
Agora que já podemos dizer que estamos em casa - há uma semana! - tudo se tem tornado mais calmo. Já não há toda aquela correria provocada em maior parte pela procura de casa, o desespero por não o conseguir, o cansaço por todo o corpo, os pequenos momentos de desânimo. Estamos bem instaladas e, com o conforto, veio uma maior tranquilidade e a adaptação contínua a uma rotina em nada semelhante àquela que conhecíamos. Podemos, no fundo, dizer a plenos pulmões (agora em homenagem aos nossos coleguinhas, nossa(s) alma(s)) que estamos bem, estamos fortes, fomos aos treinos, falámos com o mister!
E a verdade é que, assim, já lá vão quase duas semanas. Começamos a habituar-nos à língua, às ruas, à cidade e, muito importante, à distância. Claramente, fica sempre aquela sensação de que não é aqui que pertencemos e que, na outra realidade, temos pessoas que continuam a sua vida habitual - aquela da qual fazíamos parte - sem nós. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que essas mesmas pessoas vão estar sempre lá - no nosso verdadeiro lugar - para nos ver chegar e abraçar. Novamente.
Por enquanto, gozamos a rotina deste mundo aparte no qual acabamos de aterrar. Ainda que continuemos um pouco inconscientes do que estamos a viver, a realidade é mesmo essa: estamos a vivê-lo. E a cada dia se torna maior a vontade de explorar este sonho real ao máximo...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

10 giorni

Faz hoje 10 dias que cá chegamos. Nunca estive tanto tempo longe de casa, "sozinha". Parece-me que já passou mais tempo e, mesmo assim, ainda não consegui desligar o - como lhe chama a Raquel - botãozinho de Portugal.
É-me estranho pensar que toda a minha vida foi transferida do Porto para Roma por 6 meses. E não, que ninguém me diga que meio ano não é assim tanto tempo.
A verdade é que por muito que eu goste e precise de mudança, por mais que eu odeie rotinas, custa-me sempre desapegar das minhas pessoas, dos meus lugares, das minhas coisas.
Contudo, à excepção das saudades que já vou sentindo, sinto-me bem aqui. Roma não é tanto aquela cidade encantada como eu a pintava, enquanto turista. Os romanos são pessoas confusas e desorganizadas, os transportes públicos são barulhentos e não muito confortáveis, as ruas um bocado sujas e, por vezes, mal cheirosas, vêem-se pessoas com aspectos duvidosos e indianos é o que não falta por aqui.
Ainda assim, não deixa de ser Roma e, para mim, Roma vai ser sempre amoR. Há sempre qualquer coisa de admirável nesta cidade e nesta gente que me deixa apaixonada, que me faz acreditar que esta será sempre a minha terceira cidade. Gosto, sinceramente, de cá estar, de estar a cumprir um sonho que guardava há muito tempo. Acho que me vou dar bem por aqui.
A aventura começou. Já está a valer a pena.

«Traveling is all very well and good as long as you know there is a place or person you can call home