domingo, 13 de fevereiro de 2011

"che ci fai piangere e abbracciarci ancora"


E, a meio de uma canção, a voz treme. Eu, que já não sou boa cantora por natureza, decido ficar calada, por já não conter mais a lágrima pendurada na pestana. Não obstante, chega sempre a altura em que a voz deixa de tremer e a lágrima de se segurar; a primeira agora falha, fica presa na garganta. Já não sei tê-la firme. Perdi pedaços de voz quando em Roma ganhei raízes no coração. A lágrima, essa multiplica-se ao som de cada nota, cada letra que elas cantam. Arrepio. No fundo, já diz a canção, a saudade começa assim.
Saudade. Sorrio triste. A saudade já vai crescendo naturalmente. Tão natural como um gelado numa noite fria de Inverno. Ou como, na ânsia de um abrigo temporário, bater na porta do vizinho, às 4h da manhã, porque é impossível adormecer numa cama partilhada por quatro pessoas engronhadinhas. Tão natural, ainda, como ir de pijama à cantina, como se fosse a própria cozinha da casa, afastada do resto das divisões, ou de andar à chuva, como se ela caísse de propósito em memória de momentos felizes.
Tenho o coração frio e apertado, incapaz de alimentar e de suportar em si o peso, o tamanho de uma tal saudade em gestação. Sinto já os seus pontapés na barriga, pancadas fortes que me esmagam a razão e a vontade. E se eu ao menos pudesse impedi-la de crescer...
É tarde demais. Faltam cinco dias. Estremeço. Falta também a consciência de que, daqui a seis, Roma já não me terá. Fica, porém, a garantia de trazê-la (para) sempre comigo, e a crença na promessa de um dia aqui voltar.


(Já não sei ir além de rascunhos do que sinto. Hoje fico por aqui.)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Città Eterna

"Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida,
Qualquer coisa que não volta que voou,
Que foi um rio, um ar, na tua vida.

E levas em ti guardado
O choro de uma balada
(...)
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p’rá vida.

Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar,
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica a esperança de um dia aqui voltar."

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

tanto mia, troppo nostra.

"It's not over, 'till it's over. I wanna stay here forever"

Acabei de acertar os últimos pormenores do trabalho de Scienze Semiotiche. Sinto-me mais leve. Independentemente do resultado, já está feito; com a "apresentação" preocupo-me depois. Agora é tempo de estudar Comunicazione Pubblica, que, devo dizer, é talvez a cadeira mais preocupante. O exame é oral e, de toda a matéria, nem sabemos exactamente o que estudar.
No entanto, neste momento, as mil e uma forma de comunicações - sejam elas de mercado, empresariais, institucionais, entre tantas outras - não pensam entrar já na minha cabeça. Primeiro, quero respirar. Quero absorver o frio romano que entra pela porta e me bate nas costas. Quero descansar dentro destas quatro paredes a que chamo e sinto como casa. Agora, é tempo de parar, mesmo que, para minha desolação, eu não veja o tempo parado.
A partir de hoje, resta-me exactamente um mês na Cidade Eterna - decido chama-la assim porque assim a sinto. No peito, um aperto começa a crescer, ainda pequenino, como se fosse ele próprio um nó no meu cabelo. A diferença é que este não se desfaz e faz doer. Na garganta, já se dissipou, ao contrário desse nó, o sabor doce do chocolate misturado com o do café - hábito terrivelmente bom a que me habituei depois do almoço. Afinal, já todos dizem, o que é bom acaba depressa. E na cabeça - aquela que parece o motor incansável de um carro velho, ruidoso , violentamente ensurdecedor - surgem os medos e as inseguranças que eu não quero explicar. Quem precisa de o saber, já o sabe. Tão bem ou melhor do que eu. E, se for preciso, podemos , literalmente, gritá-lo pelas ruas. Ninguém percebe, só nós. E não há nada melhor do que os segredos partilhados em risos, lágrimas, loucuras e depressões. É por isso que não quero ir embora. Aqui, com elas, posso ser quem eu quiser, quando quiser, como quiser.
Agora, sou daquelas pessoas a quem custa largar o que de tão seu já considera. É como se alguém me pedisse aquele último resto do meu café ou o último pedacinho do chocolate que tão bem me está a saber. É meu, demasiado meu. Não mo tirem, por favor!
É que afinal ninguém quer ficar de mãos vazias, não depois de ter segurado o mundo...



Porque Roma é tão minha, é demasiado nossa.


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ritorno

01.12.2010, Aeroporto de Madrid

«And I don't want the world to see me, 'cause I don't think that they'd understand...»


Eram 3h da manhã. Tinha, finalmente, parado de chover, ainda que se sentisse no ar toda a humidade provocada por um dia de chuva incessante.
Caminhei sozinha aquela rua que já é tão minha. Hoje subia-a, ao contrário do primeiro dia em que a passeei, ao ir de encontro à casa que viria a ser nossa. Hoje, ao contrário de há 3 meses atrás, não me fazia acompanhar do riso e das vozes delas - já tão indispensáveis aos meus dias. Eram 3h da manhã e o barulho solitário das rodas da mala na pedra do chão era demasiado estrondoso aos meus ouvidos.
Quis voltar para trás. Quis recusar-me a caminha sozinha aquela rua que é nossa - nossa nas tantas noites em que regressámos de N2, ou sempre que queremos comprar shampoo, ou levantar dinheiro, ou até mesmo procurar uma esquadra; ou que é nossa por nada, porque passamos ali só por passar. Quis abafar aquele ruído insuportável da despedida com as gargalhadas delas - "Despedida? São só 5 dias, Ana. E quando for a sério?" - Quis calar as vozes que gritavam ao meu coração. Queria, no fundo, plantar algum entusiasmo no meu espírito. E, no entanto, a minha cabeça ignorou todos os meus quereres - eu continuei em frente, sozinha, sem o som dos seus risos, sem o tom das suas brincadeiras. Segui com aqueles gritos que me esvaziavam de sanidade e não me deixavam estar feliz.
Voltar a Portugal. E se ao menos alguém soubesse o quanto o desejei e o quanto, às 3h da manhã naquela rua, o repulsei!
"Só vocês é que vão entender". Só vocês, de quem me habituei a gostar tanto - e vocês sabem-no, ainda que tantas vezes eu diga o contrário - é que podem efectivamente entender. Vocês, mais ninguém. E eu não quero entrar em explicações aos demais, quando para vocês não preciso de palavras.
Digam-me só que eu estou aí já outra vez e que estou a exagerar - eu sei que estou. Da mesma forma que sei que, mal chegue a Portugal e veja o sorriso daqueles de quem tanto gosto e tenho saudades, ou sinta o frio do Porto, o entusiasmo crescerá espontaneamente em mim. E eu vou estar feliz.
No entanto, já me faz falta respirar o ar de Roma, o sabor do sumo de laranja misturado com o cheiro da pasta da cantina e o som dos risos delas...



P.S.: Dois dias depois de ter chegado, posso dizer que nem tudo foi como imaginei - umas coisas melhores, outras piores. Mas estou bem e feliz. Ainda que o pensamento voe constantemente até à Cidade Eterna.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010



(...)
This is the closest to heaven that I'll ever be
And I don't wanna go home right now.
And all I can taste is this moment,
And all I can breathe is this life
'Cause sooner or later it's over
And I just don't wanna miss it tonight.

And I don't want the world to see me
'Cause I don't think that they'd understand...

Erasmus Roma *