sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ritorno

01.12.2010, Aeroporto de Madrid

«And I don't want the world to see me, 'cause I don't think that they'd understand...»


Eram 3h da manhã. Tinha, finalmente, parado de chover, ainda que se sentisse no ar toda a humidade provocada por um dia de chuva incessante.
Caminhei sozinha aquela rua que já é tão minha. Hoje subia-a, ao contrário do primeiro dia em que a passeei, ao ir de encontro à casa que viria a ser nossa. Hoje, ao contrário de há 3 meses atrás, não me fazia acompanhar do riso e das vozes delas - já tão indispensáveis aos meus dias. Eram 3h da manhã e o barulho solitário das rodas da mala na pedra do chão era demasiado estrondoso aos meus ouvidos.
Quis voltar para trás. Quis recusar-me a caminha sozinha aquela rua que é nossa - nossa nas tantas noites em que regressámos de N2, ou sempre que queremos comprar shampoo, ou levantar dinheiro, ou até mesmo procurar uma esquadra; ou que é nossa por nada, porque passamos ali só por passar. Quis abafar aquele ruído insuportável da despedida com as gargalhadas delas - "Despedida? São só 5 dias, Ana. E quando for a sério?" - Quis calar as vozes que gritavam ao meu coração. Queria, no fundo, plantar algum entusiasmo no meu espírito. E, no entanto, a minha cabeça ignorou todos os meus quereres - eu continuei em frente, sozinha, sem o som dos seus risos, sem o tom das suas brincadeiras. Segui com aqueles gritos que me esvaziavam de sanidade e não me deixavam estar feliz.
Voltar a Portugal. E se ao menos alguém soubesse o quanto o desejei e o quanto, às 3h da manhã naquela rua, o repulsei!
"Só vocês é que vão entender". Só vocês, de quem me habituei a gostar tanto - e vocês sabem-no, ainda que tantas vezes eu diga o contrário - é que podem efectivamente entender. Vocês, mais ninguém. E eu não quero entrar em explicações aos demais, quando para vocês não preciso de palavras.
Digam-me só que eu estou aí já outra vez e que estou a exagerar - eu sei que estou. Da mesma forma que sei que, mal chegue a Portugal e veja o sorriso daqueles de quem tanto gosto e tenho saudades, ou sinta o frio do Porto, o entusiasmo crescerá espontaneamente em mim. E eu vou estar feliz.
No entanto, já me faz falta respirar o ar de Roma, o sabor do sumo de laranja misturado com o cheiro da pasta da cantina e o som dos risos delas...



P.S.: Dois dias depois de ter chegado, posso dizer que nem tudo foi como imaginei - umas coisas melhores, outras piores. Mas estou bem e feliz. Ainda que o pensamento voe constantemente até à Cidade Eterna.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010



(...)
This is the closest to heaven that I'll ever be
And I don't wanna go home right now.
And all I can taste is this moment,
And all I can breathe is this life
'Cause sooner or later it's over
And I just don't wanna miss it tonight.

And I don't want the world to see me
'Cause I don't think that they'd understand...

Erasmus Roma *

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Piove tantissimo!

Hoje é daqueles dias em que devia ser proibido sair de casa. As ruas estão inundadas. As minhas calças, lavadas e passadas a ferro ontem à noite, estão salpicadas de água suja até ao joelho, em consequência do cuidado extremo que os condutores italianos têm ao andar na estrada. Onde param os dias de sol e calor em Roma, aqueles que eu senti ainda ontem, quando cheguei cá de mochila às costas, com duas malas atrás de mim, mais outras 11 pertencentes às três criaturas que pouco conhecia?
É Novembro. A Cidade Eterna vê-se debaixo de uma chuva intensa e trovões que deixam o Fuori - ou Monsenhor, ou Dark, ou Black, como queiram - a tremer até à cauda. É Novembro. Como "o tempo morre ainda antes de nascer", já escrevia a Raquel no seu facebook, citando a Ana Moura.
A verdade é que por aqui os dias têm passado muito rápido e, qual maratona, parece que correm cada vez mais. Mesmo que as saudades de casa apertem, entristece-me saber que a minha vida aqui tem um prazo de validade, prazo esse, no fundo, prestes a expirar.
Não me posso alongar mais, já estou a ficar atrasada para a minha aula de italiano. Sim, o curso que ainda ontem começou e cujo teste estarei a fazer daqui a um mês (que é como quem diz amanhã).


(É verdade, a Constituição da Comunidade Portuguesa foi finalmente oficializada no dia 8 de Novembro. Somos uma Comunidade a sério! - não que já não o fôssemos)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Che carino! :)

"Estás bem entregue. Eles tratam bem de ti."

Não são palavras minhas, mas eu subscrevo-as.
A minha Comunidade cuida bem de mim e eu até gosto um bocadinho deles.
E hoje fico-me por aqui; porque a inspiração é pouca, a preguiça é muita mas pesa-me na consciência deixar este blog tão abandonado.


A Comunidade e o Emplastro, na Basílica de S.Pedro


(A foto foi um pretexto para não sentir que deixei este post tão vazio)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

questa è la mia città!

O objectivo deste post era suposto ser sobre o nosso - já tão longe - InteRail, mas a verdade é que a preguiça tomou conta de mim e, a dada altura, desisti de contar os dias em Verona e Veneza (que foram, na verdade, dos mais bonitos que já vivi). Aconselho vivamente, a quem quiser saber um pouco do que se passou, a fazer uma visita aos blogs da Mariana (que contou logo tudo de uma só vez) e da Inês (que, tal como eu, foi invadida pela preguiça mas, ao contrário de mim, ainda vai escrevendo alguma coisa). Não digo para lerem o da Raquel, que deixou o seu blog tristemente abandonado (mesmo que eu não tenha muita moral para falar!)
A verdade é que já passou basicamente um mês desde a nossa viagem mágica. O nosso bilhete pseudo-ilegal, que nós dizíamos usar todos os fins-de-semana durante um mês, foi deixado na gaveta e, só neste último domingo, as minhas companheiras lhe decidiram fazer jus e partiram rumo a Siena, a cidade que, não fossem a nossa preguiça e cansaço, teria sido o último destino da Road Trip. Eu fiquei por cá, a passear e a, quase como uma verdadeira habitante, mostrar Roma aos pais, que vieram para fazer uma visita à sua querida filha e acabaram por sair apaixonados pela cidade eterna.
Roma. No facebook, diz que é a minha "current city". Ainda parece apenas virtual, mas não é.
Roma... a minha cidade.
E assim, pela nossa cidade, as coisas vão correndo bem. Fora os dias em que não fazemos nada - vá, mentira! somos muitas vezes oito pessoas ao monte, em cima de uma única cama, com um calor terrível e frente a um pequeno ecrã de PC, que se aculturam cinematograficamente - temos passeado e conhecido um pouco da história de Roma - notem-se as visitas ao Foro Romano, Coliseu e outros lugares importantes - temo-nos divertido e dançado muito em festas temáticas engraçadas - conhecemos uma discoteca linda, onde decorreu a festa Black&White! - e temos ido ao cinema (sim, porque não fazemos só sessões caseiras) ver filmes em italiano - e a melhor parte é que percebemos tudo direitinho! Tudo graças ao nosso querido ESN, que organiza estas coisas fantásticas!
Também temos estudado, é verdade. O nosso curso de italiano já começou e nós até nos temos empenhado. Eu ainda só tive duas aulas, mas até agora o balanço tem sido positivo. Também hoje começaram, finalmente, as nossas aulas na faculdade - Os professores lá decidiram tirar o rabinho do sofá, acabar com a greve e com a preocupação de estudantes como nós.
Ainda assim, não vai ser fácil conciliar tudo. As próprias aulas da faculdade sobrepõem-se umas às outras, já para não falar das aulas de italiano - essas sim, obrigatórias. O que nos pode safar é o facto dos professores aqui não darem grande importância à frequência às aulas. O único senão é, como hoje o nosso professor de Informatica e Tecnologie delle Comunicazione Digitale fez questão de frisar, não podermos fazer um exame simplificado, caso não vamos a todas as suas aulas. Por outro lado, a professora de Comunicazione Publica e Instituizionale, foi uma querida, segundo a Mariana, e disse que até nos poderia fazer um exame especial. Que sorte. Agora ainda falta conhecer dois professores. Aí saberemos até que ponto vamos ver - recorrendo a uma expressão que tanto gosto - a nossa vida a andar para trás.
Por aqui, só falta mesmo realizar a cerimónia da Oficialização da Constituição da Comunidade Portuguesa em Roma e respectiva distribuição dos cargos que, por motivos de força maior, tem sido constantemente adiada.
Embora a visita dos pais tenha aguçado um bocadinho mais a saudade de casa, posso afirmar com toda a certeza que, aqui pela nossa actual cidade, vive-se bem e recomenda-se!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

23.09.2010: Firenze-Milano

Meia noite e ali estávamos nós, numa paragem de autocarro quase invisível, com muito frio e a comer chocolate. E assim ficámos, durante mais de meia hora, até que chegou o autocarro, cujo motorista também se prontificou a avisar-nos quando chegássemos à paragem devida. Não fosse a nossa, desta vez, atenção redobrada e acabaríamos, de novo, muito longe de Campo di Marte.
Mal chegámos, deparamo-nos com uma sala de espera que em tudo se assemelhava a uma casa para uma dezena, ou mais, de sem-abrigo. Nas máquinas de venda de bilhetes automáticos, procurámos o bilhete adicional de 3€ de que teríamos de nos fazer acompanhar para poder entrar no inter-cidades nocturno. Tendo em conta que, no entanto, isso não parecia ser possível, já estávamos a ponderar como certa a hipótese de embarcar sem bilhete e explicar ao pica a situação, não fosse a minha curiosidade e uma atenção nada em mim natural de ter reparado que, num outro canto da sala, havia máquinas com linguagem em português! Para me entreter, decidi brincar um bocadinho e acabei por descobrir que a solução ao nosso problema estava mesmo ali. Comprámos logo o bilhete Florença-Bologna (onde teríamos de mudar de comboio) e Bologna-Milão.
E então, por volta das 2h da manhã, estava eu numa carruagem mal cheirosa, sozinha – já que havia lugares marcados e nós não tínhamos conseguido ficar juntas – a rabiscar umas anotações sobre a nossa intitulada road trip e a tentar, a todo o custo, manter-me acordada, até porque a viagem não demoraria muito mais que uma hora. Já no outro comboio, directo para Milão, a nossa sorte foi outra. Todas com lugares marcados na mesma cabine, já a sonhar com as cerca de 3 ou 4 horas de sono que teríamos, abrimos a respectiva porta e deparámo-nos com dois homens adormecidos, a ocupar todos os nossos lugares e, melhor ainda, qual cavalheiros, a presentear-nos com o belo cheiro dos seus pés descalços. Contudo, como a sorte, ainda que muito manhosa, nos acompanhou durante toda a viagem, conseguimos encontrar uma outra cabine, totalmente vazia e na qual ficámos toda a viagem sozinhas, sem ninguém nos tirar de lá.
Chegámos a Milão ainda mal tinha nascido o dia. Eram 6h45. Durante os breves instantes em que eu e a Mariana deixámos a Raquel e a Inês para ir à casa de banho, elas adormeceram num canto mesmo em frente à porta desta. Quando voltámos, ainda tentámos demovê-las daquela ideia absurda, mas, como já diz o ditado, se não consegues vencê-los, junta-te a eles. E, assim, eu e a Mariana não resistimos a acomodar-nos ao lado delas e, também nós, acabar adormecidas entre a entrada de dois elevadores e da casa de banho. Até que fomos acordadas por um polícia que, gentilmente, nos pediu para sair dali. É escusado dizer que, em vez de irmos à descoberta de Milão, sentimo-nos no direito de nos sentar nos banquinhos da estação e voltar a adormecer, durante 2 horas.
Quando acordámos, apanhámos o autocarro para o centro e, na ânsia desesperada de prestar a nós próprias cuidados mínimos de higiene e encontrar um lugar com tomada para pôr a bateria da minha máquina, fomos tomar o pequeno almoço ao já tão nosso, claro está, McDonalds. Entre cappuccinos, brioches, lavagens de dentes, alguma muda de roupa e conversa, ficámos, seguramente, mais de uma hora nesta nossa nova casa, o que resultou num início de visita a Milão muito tardio.
Seguindo as indicações do nosso tão prestável guia, fomos logo ver a Duomo, uma catedral gótica gigantesca, frente à qual existia uma grande praça e, num canto, um palco montado onde se podia ler claramente Milano loves fashion (que, de resto, era o slogan de milhares de cartazes espalhados por toda a cidade). A verdade é que, durante o resto do dia, percebemos que, além disso, de meia dúzia de igrejas espalhadas por aqui e por ali – numa das quais decorria um casamento e nós (eu não, porque, verdade seja dita, mal parei, aterrei logo), nada curiosas, sentamo-nos fora da igreja à espera que noivos e convidados saíssem para podermos apreciar as roupas usadas numa cerimónia na cidade da moda - e das ruas e galerias com centenas de lojas super caras, Milão não tem muito mais para ver. Ainda poderíamos ter tido a oportunidade única de ver a Última Ceia do Da Vinci, não fosse preciso reservar a visita com um mês de antecedência, no mínimo. De resto, podemos dizer que muito do encanto de Milão, encontrámo-lo à noite.
Ao fim da tarde, procurámos um castelo e os seus jardins que nos soaram a uma perfeita desculpa para parar e descansar. Quando finalmente o encontrámos, sentamo-nos para comer as nossas bolachinhas e partilhar uma maçã, até que, num banco um pouco mais longe, um senhor, pelos visto muito simpático, começou a discutir – entenda-se gritar – ao telemóvel, o que nos pareceu o sinal de aviso para sair dali. Sorte a nossa que logo de seguida encontrámos um vendedor de pulseiras arco-íris (a Raquel acaba de as denominar assim) que, literalmente, me atirou uma para cima, depois de eu a recusar. Sempre a relembrar a waka waka e o amor e solidariedade para com África, amarrou uma pulseira ao pulso de cada uma, garantindo que era oferecida, para nos pedir imediatamente uma moedinha. Ora, tendo em conta que nós é que andávamos sempre a contar os trocos, dissemos-lhe que não tínhamos dinheiro e ele, muito chateado, foi embora. Ainda tivemos tempo de nos sentar na beira de uma fonte, frente ao castelo, antes de irmos passear pela Via Napoleone, ao que parece a rua onde todas as grandes marcas se concentram em diversas lojas e onde passeiam pessoas tão bem vestidas e cheirosas que eu, nem numa festa de gala, conseguiria alguma vez estar ao nível de elegância e classe destas.
Quando começou a anoitecer, estávamos absolutamente de rastos. Voltámos à praça da Duomo e, tal e qual umas sem abrigo, deixámo-nos cair num canto e ali ficámos. Teria sido esse o plano para toda a noite, não fosse o ensaio para um qualquer espectáculo, no palco montado que anteriormente mencionei. A Raquel, mal viu que se tratava de dança, esqueceu imediatamente o cansaço e foi a correr para lá, com a Mariana logo atrás de si. Por solidariedade, eu e a Inês, com muito esforço, lá nos levantámos para as acompanhar.
Mais uma vez, por ser o mais perto e o mais barato, fomos buscar comida ao McDonalds e jantámos na praça. Ainda tivemos tempo para fazer dois amigos egipcianos a quem, mesmo nós de mau aspecto e mal cheirosas, parecemos molto carinas.
O resto, já todos sabem e eu não tenho muita vontade de voltar a contar pormenorizadamente… Voltámos para a estação de Milão, adormecemos e roubaram-me o telemóvel e dinheiro. Mas, como eu já disse, a sorte acompanhou-nos sempre, ainda que muito disfarçadamente, e felizmente eu encontrei um ladrão civilizado e com carácter, que me fez o grande favor de deixar os documentos e a máquina fotográfica.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

22.09.2010: Firenze

Um cappuccino e a constatação assustadora de que o bilhete de comboio tinha ficado no hotel, do qual já tínhamos feito check out. Assim começou o dia em Florença.
Quando, depois de vários minutos com os nossos bilhetes na mão e a ponderar viagens e crimes, a Mariana se apercebeu de que o seu não estava com ela, foi a correr para o hotel. Por via das dúvidas, tendo em conta o seu bom sentido de orientação, levou a Inês atrás de si, enquanto eu e a Raquel ficámos à espera, sentadas na mesa do café, onde tínhamos bebido o indispensável cappuccino da manhã e, quase clandestinamente, comido um pão comprado minutos antes. Logo que a Mariana e a Maria Inês voltaram do resgate, com o bilhete são e salvo, começámos, muito mais descansadas, a visita a uma cidade que, certamente, tão cedo - ou nunca - iremos esquecer.
Florença tem de tudo: monumentos enormes e coloridos, uma igreja em cada esquina, um rio lindo com pontes que proporcionam paisagens fantásticas e das quais uma - a Ponte Vecchio - alberga sobre si uma verdadeira fábrica de ouro, de tantas as ourivesarias que se estendem ao longo da sua calçada, uma praça bem no alto que permite admirar toda a cidade no expoente máximo do seu esplendor e até mesmo sinais de trânsito bastante engraçados...
Depois de passear muito pelo centro histórico, parámos num pequeno bar, à beira-rio, com uma sombrinha que vinha mesmo a calhar, óptimas sandes para o almoço e cujo único problema residia simplesmente na quantidade de pombas esfomeadas e nojentas que andavam à volta da minha cadeira. De barriga quase cheia - porque ainda ficou aquela sensação de insatisfação que seria compensada com um gelado mais tarde - voltámos a pôr mochila às costas e partimos em mais descobertas.
Deixámos para trás o lado mais histórico e monumental da cidade, atravessámos o rio e, por entre uma zona mais natural e verde, depois de muito subir, chegámos à praça de Michelangelo. Indescritível. É esta a única palavra capaz de dizer o mínimo da beleza que de lá se avista. Com uma excelente vista de toda a cidade, foi impossível não nos rendermos a Florença que, mais do que uma cidade, é verdadeira arte. O cansaço, que se espalhava por todo o nosso corpo, naquele momento desapareceu, para dar lugar a um fascínio e a uma admiração muito dificilmente igualáveis. Falo por mim, mas acho que também posso falar por todas: se já não havia qualquer dúvida de que era uma cidade de sonho, aquele instante em que chegámos ao alto de Michelangelo, foi o instante em que nos apaixonámos perdidamente por Florença.
Ainda que desejássemos ficar ali para o resto das nossas vidas, lá decidimos seguir viagem e conhecer o que ainda faltava. Fomos, por isso, capazes de subir mais um bocadinho ainda e chegar a uma igreja com uma vista igualmente espectacular. Melhor ainda, lá fizemos aquela que foi uma das melhores descobertas do dia: uma fonte de água fresca pela qual ansiávamos há horas!
Antes de jantarmos, ainda tivemos tempo de parar no terraço de entrada deum palácio enorme e num ponto de internet onde aproveitámos para passar para o disco externo da Raquel as quase mil fotos que já tínhamos.
Tendo em conta que a máquina fotográfica, nossa melhor amiga durante toda a viagem, tinha ficado sem bateria, lá nos obrigámos a ir jantar ao McDonalds - que, como irão perceber, se tornou o mais parecido com uma casa que tivemos ao longo desta aventura - para a pôr a carregar. Sorte a nossa, só havia uma tomada na divisão que estava fechada, o que tornou o tempo de carregamento muito reduzido.
Como o nosso comboio para Milão partia de uma estação que não a central, apanhámos um autocarro. O condutor, ao bom estilo italiano, prontificou-se a dizer-nos quando devíamos sair mas eis que... se esqueceu! Entre conversas parvas e gargalhadas, apercebemo-nos que talvez já tivéssemos andado demais. Quando a Raquel foi, só por via das dúvidas, perguntar, se já não teríamos passado a estação, ele levou as mãos à cabeça, disse-nos para apanhar um autocarro de volta, no meio do nada, e nem um pedido de desculpa fez.
E ali ficámos nós, sozinhas, numa estrada escura, rodeada de floresta, onde os carros passavam só ocasionalmente... Faltava mais de meia hora para o único e último autocarro de volta passar. Era meia noite.


P.S.: Mãe, olha o vestido que eu cosi! :D

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

21.09.2010: Roma-Perugia-Firenze


São 4h da manhã. Saímos de casa, mochila nas costas. Não dormimos. No entanto, estamos felizes. Sinto os olhos pesados, mas o sorriso e a ansiedade conseguem mantê-los abertos. Temos, exactamente, 1h50 até à partida do comboio. Embora seja muito cedo, apanhar o autocarro nocturno das 4h08, na Viale delle Provincie, é a nossa única hipótese de chegar a Termini a tempo. Ou era!
E assim começam as nossas aventuras...
Perdemos o autocarro e, com a ajuda e companhia do nosso paizinho, o Ivo, conseguimos chegar em cerca meia hora, a pé, à estação. No entanto, Road Trip que é Road Trip nunca pretere o certo pelo incerto, o seguro pelo inseguro, o esperado pelo inesperado... E, assim, os pequenos percalços não se ficaram por aqui.
Eu, que sou sempre a mesma, como se costuma dizer, esqueci-me do cartão de memória da máquina fotográfica em casa. Não fosse a Raquel lembrar-se de tirar uma foto mal chegámos a Termini e as nossas 2747 fotos ficariam reduzidas a... nem quero sequer imaginar! Qual loucas, decidimos voltar a casa para recuperar a pequena relíquia, assim como o horário dos comboios, pelo qual pagámos 5€ de propósito, de que também nos tínhamos esquecido. Faltava, precisamente, 1 hora para o nosso comboio partir.
No entanto, o acaso, como nós acreditamos, nunca nos deixa ficar mal. A verdade é que, se temos alguém para fazer asneira, também temos alguém para remediá-la. O génio da Inês acordou, estávamos nós a chegar a casa, e lembrou-se que o comboio, que saía de Termini às 5h50, parava em Tiburtina minutos depois. Ora, Tiburtina fica, nem mais nem menos, a poucas centenas de metros de nossa casa que, em minutos, se traduz em cerca de 10 a pé. Resultado: por incrível que pareça, depois de tudo, ainda ficamos à volta de meia hora na estação à espera do nosso transporte!
Às 9h, mais coisa menos coisa, depois de uma breve paragem em Foligno para trocar de comboio, chegámos a Perugia. Apanhámos o autocarro para o centro, tomámos um belo de um cappuccino para repor energias e partimos em descoberta de uma cidade que, embora pequena, tem muita beleza para mostrar. Apreciámos vistas magníficas, gravámo-las em centenas de fotos, descemos escadas mesmo fofinhas, perseguimos a visão de um castelo que, depois de muito tempo e cansaço para o encontrar, acabámos por não poder subir. Dividimos uma excelente pizza, redonda (e não rectangular, como o habitual em Roma), sentadas na mesa de um restaurante a sério e, por recomendação do Ivo, comemos dos melhores gelados que alguma vez provámos.
Quando fomos apanhar o comboio para a tão esperada Florença, estávamos completamente exaustas!
Já na cidade encantada, tivemos a sorte de, por mero acaso, encontrar muito rápido um hotel bem barato. Já de quarto assegurado e mochilas fora das costas, fomos dar um pequeno passeio, perto do anoitecer, à beira-rio. Ainda que não tivéssemos visto quase nada, ficámos desde logo fascinadas com Florença! De vista cheia, voltámos cedo para o hotel, para podermos descansar bem e, assim, estarmos prontas para, de manhã, explorar o melhor possível uma cidade de sonho...
Tudo o que aconteceu e vimos no dia seguinte, fica para saber mais tarde...


Não percam o próximo episódio, porque nós também não!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

viaggiare, esplorare.

Vamos de viagem!
Nos próximos 6 dias, que prometem ser cansativos, mas bem interessantes, passearemos por Peruggia, Florença, Milão, Verona, Veneza e Siena.
Estou feliz.

Até domingo *

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Adattamento

E entre passeios, filmes, compras, cartas, festas, risos e conversa se passam os dias em Roma...
Agora que já podemos dizer que estamos em casa - há uma semana! - tudo se tem tornado mais calmo. Já não há toda aquela correria provocada em maior parte pela procura de casa, o desespero por não o conseguir, o cansaço por todo o corpo, os pequenos momentos de desânimo. Estamos bem instaladas e, com o conforto, veio uma maior tranquilidade e a adaptação contínua a uma rotina em nada semelhante àquela que conhecíamos. Podemos, no fundo, dizer a plenos pulmões (agora em homenagem aos nossos coleguinhas, nossa(s) alma(s)) que estamos bem, estamos fortes, fomos aos treinos, falámos com o mister!
E a verdade é que, assim, já lá vão quase duas semanas. Começamos a habituar-nos à língua, às ruas, à cidade e, muito importante, à distância. Claramente, fica sempre aquela sensação de que não é aqui que pertencemos e que, na outra realidade, temos pessoas que continuam a sua vida habitual - aquela da qual fazíamos parte - sem nós. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que essas mesmas pessoas vão estar sempre lá - no nosso verdadeiro lugar - para nos ver chegar e abraçar. Novamente.
Por enquanto, gozamos a rotina deste mundo aparte no qual acabamos de aterrar. Ainda que continuemos um pouco inconscientes do que estamos a viver, a realidade é mesmo essa: estamos a vivê-lo. E a cada dia se torna maior a vontade de explorar este sonho real ao máximo...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

10 giorni

Faz hoje 10 dias que cá chegamos. Nunca estive tanto tempo longe de casa, "sozinha". Parece-me que já passou mais tempo e, mesmo assim, ainda não consegui desligar o - como lhe chama a Raquel - botãozinho de Portugal.
É-me estranho pensar que toda a minha vida foi transferida do Porto para Roma por 6 meses. E não, que ninguém me diga que meio ano não é assim tanto tempo.
A verdade é que por muito que eu goste e precise de mudança, por mais que eu odeie rotinas, custa-me sempre desapegar das minhas pessoas, dos meus lugares, das minhas coisas.
Contudo, à excepção das saudades que já vou sentindo, sinto-me bem aqui. Roma não é tanto aquela cidade encantada como eu a pintava, enquanto turista. Os romanos são pessoas confusas e desorganizadas, os transportes públicos são barulhentos e não muito confortáveis, as ruas um bocado sujas e, por vezes, mal cheirosas, vêem-se pessoas com aspectos duvidosos e indianos é o que não falta por aqui.
Ainda assim, não deixa de ser Roma e, para mim, Roma vai ser sempre amoR. Há sempre qualquer coisa de admirável nesta cidade e nesta gente que me deixa apaixonada, que me faz acreditar que esta será sempre a minha terceira cidade. Gosto, sinceramente, de cá estar, de estar a cumprir um sonho que guardava há muito tempo. Acho que me vou dar bem por aqui.
A aventura começou. Já está a valer a pena.

«Traveling is all very well and good as long as you know there is a place or person you can call home