sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ritorno

01.12.2010, Aeroporto de Madrid

«And I don't want the world to see me, 'cause I don't think that they'd understand...»


Eram 3h da manhã. Tinha, finalmente, parado de chover, ainda que se sentisse no ar toda a humidade provocada por um dia de chuva incessante.
Caminhei sozinha aquela rua que já é tão minha. Hoje subia-a, ao contrário do primeiro dia em que a passeei, ao ir de encontro à casa que viria a ser nossa. Hoje, ao contrário de há 3 meses atrás, não me fazia acompanhar do riso e das vozes delas - já tão indispensáveis aos meus dias. Eram 3h da manhã e o barulho solitário das rodas da mala na pedra do chão era demasiado estrondoso aos meus ouvidos.
Quis voltar para trás. Quis recusar-me a caminha sozinha aquela rua que é nossa - nossa nas tantas noites em que regressámos de N2, ou sempre que queremos comprar shampoo, ou levantar dinheiro, ou até mesmo procurar uma esquadra; ou que é nossa por nada, porque passamos ali só por passar. Quis abafar aquele ruído insuportável da despedida com as gargalhadas delas - "Despedida? São só 5 dias, Ana. E quando for a sério?" - Quis calar as vozes que gritavam ao meu coração. Queria, no fundo, plantar algum entusiasmo no meu espírito. E, no entanto, a minha cabeça ignorou todos os meus quereres - eu continuei em frente, sozinha, sem o som dos seus risos, sem o tom das suas brincadeiras. Segui com aqueles gritos que me esvaziavam de sanidade e não me deixavam estar feliz.
Voltar a Portugal. E se ao menos alguém soubesse o quanto o desejei e o quanto, às 3h da manhã naquela rua, o repulsei!
"Só vocês é que vão entender". Só vocês, de quem me habituei a gostar tanto - e vocês sabem-no, ainda que tantas vezes eu diga o contrário - é que podem efectivamente entender. Vocês, mais ninguém. E eu não quero entrar em explicações aos demais, quando para vocês não preciso de palavras.
Digam-me só que eu estou aí já outra vez e que estou a exagerar - eu sei que estou. Da mesma forma que sei que, mal chegue a Portugal e veja o sorriso daqueles de quem tanto gosto e tenho saudades, ou sinta o frio do Porto, o entusiasmo crescerá espontaneamente em mim. E eu vou estar feliz.
No entanto, já me faz falta respirar o ar de Roma, o sabor do sumo de laranja misturado com o cheiro da pasta da cantina e o som dos risos delas...



P.S.: Dois dias depois de ter chegado, posso dizer que nem tudo foi como imaginei - umas coisas melhores, outras piores. Mas estou bem e feliz. Ainda que o pensamento voe constantemente até à Cidade Eterna.

3 comentários:

  1. Eu apostei que ias voltar filosófico-melancólica :)
    Os nossos risos estão sempre aqui, sabes bem... E por muito que o tempo voe esta não vai deixar de ser a nossa casa, a Eterna. Aproveita agora o tempo com os teus, que é do melhor que podes sentir :)

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  2. "Mas estou bem e feliz."
    Aproveita essa sensação. Quando voltares prometo uma daquelas sessões. Não vão faltar os nossos risos, não vão faltar as nossas vozes nem nada daquilo a que nos habituamos. Volta.

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  3. ola floco lamechas!!!

    nao te preocupes, que amanha ja estas connosco, a aturar-nos, a comer nuttela, a engordar como um pote e a fazer trabalhos e estudar, sim, nos agora tambem fazemos disso.*

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